ainda trecho de A elipse, meu conto…

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A mulher estava sozinha. Olhava pros pés. Sua concentração era tanta que pensei: Ela vai levitar. Não saiu do lugar. Uma lágrima escorregou pelo rosto e foi molhar sua blusa amarela. Mas nem isso a tirou do transe. Não consegui mais olhar; me senti um invasor. Por um momento me invadiu a idéia de respeito. Seria isso respeito? Fiquei incomodado por ter visto aquela cena tão íntima. Muito mais do que ver a moça estonteante se tocando. A mulher da cadeira de rodas me fez sentir culpado por estar olhando outras vidas sem permissão. 

Então me lembrei de todas as cenas sem permissão por que passei – e que vi – através deste buraco; me lembrei e comecei eu a chorar. Lentamente, apoiando a cabeça nas mãos. Os braços nas pernas. Os pés no chão. Chorando. 

“Impressionante. Ele chora, devagar, calmo, como se aquilo fosse a única coisa que lhe restasse. Como se fosse o único gesto digno. Ele chora sem esforço. Simples. Tão primitivo quanto o sorriso, só o choro. Ele está descobrindo quem é. Ou, o que é.” 

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