casamento de meninas na África do Sul

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Casamento de meninas: Dada, 15 anos, e sua filha de 18 meses.
Casamento de meninas na África do Sul e em outros países africanos: essa garota, na foto de 2017, tinha 15 anos. Ela é de Maiduguri, estado de Borno, nordeste da Nigéria. Seu nome é Dada, e a outra criança que ela carrega no colo é sua filha de 18 meses (foto da UNICEF). Em 2017 a Unicef já alertava para os problemas do casamento infantil na África Ocidental e Central. Um relatório da entidade afirmava que pode levar 100 anos para erradicar essa prática se não acontecerem mudanças urgentes na forma lidar com isso. É preciso fazer várias coisas ao mesmo tempo: informar, educar, acabar com a desigualdade…

Casamento de meninas na África do Sul faz parte da série Meninas e Meninos. São textos meus sobre a situação precária de menores de 18 anos no Brasil ou no mundo, em que revelo ou analiso os abusos sofridos por essas menores – todo tipo de abuso –  tendo sua infância e adolescência prejudicadas parcial ou totalmente, como na história da incrível Malala. Mas o post a seguir é especificamente sobre casamento forçado de meninas menores de 18 anos na África do Sul.

Casamento e sexo com meninas virgens cura AIDS? Claro que não. Mas em algumas regiões da África do Sul acham que sim. Mas já falarei de onde isso vem. Antes, veja o número: 15 milhões de meninas se casam todos os anos antes dos 18 (dados da UNICEF em 2017). Metade disso é ilegal. E não contei que dentro disso há casamentos com crianças de 10, 11, 12 ou 13 anos. E tem mais. Na América Latina, uma de cada quatro meninas, se casa antes dos 18 anos (relatório da Unicef de 2019, veja aqui). Eu sei que na época da sua bisavó (no meu caso foi na época da minha avó) as meninas se casavam com 16 anos e isso era normal.

Bom, o problema todo é esse. Ainda se considera normal casamento de meninas antes dos 18 sem levar em conta como isso prejudica seu desenvolvimento físico, pessoal, profissional, intelectual e psicológico. A minha avó nunca estudou e isso era considerado normal na região e época dela (nasceu em 1905 na região de Mombaça, Ceará). Então, a única função social de que minha avó dispunha era ser mãe.

do tempo da vovó pro tempo da netinha

Mas o mundo mudou desde a minha avó. Algum gênio descobriu a roda quando disse que as mulheres eram iguais aos homens e mereciam os mesmos direitos e a mesma liberdade. Pois bem, entenderam o óbvio. Na Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança, um casamento (preste atenção) é permitido somente a partir dos 18 anos, na maioria dos países do mundo. Mas alguns demoraram um pouco pra entender isso. Somente entre 2015 e 2017 países como o Chade, Malawi, Zimbábue, Costa Rica, Equador e Guatemala subiram a idade mínima de casamentos para os 18 anos. E conseguiram também tirar aquelas exceções de casamentos infantis. Quais? Quando os pais ou um juiz permitiam.

Mesmo assim, desde 2015, o casamento ilegal de garotas menores de idade subiu 200 mil (são 11 milhões e meio pelo mundo). Mais números: quase 83 milhões de meninas entre 10 e 17 anos não estão – repito – não estão legalmente protegidas contra casamentos infantis. Pois é. Ainda há muitos países que aceitam o consentimento dos pais ou de um juiz pra casar uma menina. Aí não ajuda. São mais de 96 milhões de menores, principalmente no Oriente Médio (por questões culturais ou religiosas), no norte da África (pelos mesmo motivos, mas acrescente a situação financeira das famílias), no sul da Ásia, e África Ocidental e Central.

gente que acredita em qualquer bobagem tem em todo lugar

E por falar em África, a reportagem abaixo foi escrita há alguns anos, mas sua história ainda é verdadeira, ainda toca a vida de milhares de meninas africanas. Porque o que foi relatado aí abaixo, ainda acontece. Assim como outras bobagens do tipo que servem de desculpa para abusar de meninas. Sim, estou falando de sexo com virgens para curar a AIDS. Acompanhe!

(reportagem escrita originalmente em 29 de maio de 2012 e atualizada em 04-07-20)
Casamentos de adultos com crianças não são novidade no mundo, eu já disse, certo? Pois bem. Geralmente acontecem por motivos religiosos ou financeiros. Mas em algumas regiões da África do Sul, o motivo é baseado num mito: o de que ter relações sexuais com virgens poderia curar os infectados pelo HIV.
Antes que alguém abra um sorriso de lado e diga: ah, esses ignorantes…! 
Pense bem, você que me lê. 
Em qualquer lugar do mundo (civilizado, com diploma, que fala inglês) há bobagens como essa. Gente que acha que a Terra é plana. Aqui não é diferente. Em regiões remotas do Brasil, ou regiões altamente urbanizadas de São Paulo, que se acha civilizada também, tem os terraplanistas. Ou pior. Afinal, nós já presenciamos muitos atos de selvageria medieval por aqui, certo? Na terra de Shakespeare (clique aqui e veja a matéria) há, por exemplo, muitos pais que obrigam seus filhos a se casar. Pois, é, casamento de meninas na Inglaterra, um país civilizado, ocidental, blá-blá-bla… 

na África, mitos pioram a situação das meninas

 

Então, voltemos ao assunto casamento de meninas na África do Sul. Lá nas colinas do país, num vilarejo distante da cidade, as mudanças do mundo demoram a chegar. Meninas da região são sequestradas e forçadas a casar com homens aidéticos. Os infectados acreditam que manter relações com virgens pode curar a doença. Uma investigação na área rural de Eastern Cape, mostra que crianças de até 12 anos, da etnia Xhosa, vivem a pressão de casamentos, às vezes pela própria família, que aceita dinheiro em troca de entregar a filha. 
E quando o dinheiro não resolve, acontecem os sequestros. Existe uma tradição local conhecida como Ukuthwala, que significa literalmente pegar, tomar. 
Estudos realizados pelo Banco Mundial sobre o custo econômico do casamento infantil e o custo de não educar as meninas mostram que o casamento e a gravidez precoces têm efeitos negativos profundos, que vão desde maiores riscos para a saúde, menor escolaridade, renda mais baixa na idade adulta e maior fertilidade e podem contribuir para a pobreza, menor autonomia e capacidade de decisão no lar e maiores riscos de violência doméstica (dizem Paula Tavares e Quentin Wodon, especialistas do Banco Mundial em artigo para site da ONU).
Nombasa Gxuluwe (veja link sobre quem é ela) é uma ativista da Saúde e dos Direitos Humanos. Ela trabalha numa organização de advocacia africana, a WACI. Nombasa nasceu e foi criada na região de Cape Town. Ela conta que esse mito, de que se você dormir com uma jovem virgem, o homem será curado do vírus HIV, é forte no vilarejo. “Os homens, que se tornaram viúvos por causa da AIDS, simplesmente acabam infectando as meninas”, diz Nombasa. 

Meninas vendidas para curar AIDS

As crianças podem custar algumas cabeças de gado, ou apenas um frango. As famílias invariavelmente aceitam o suborno. Algumas crianças conseguem escapar e encontram abrigos controlados pela igreja. Lá, elas têm medo de falar sobre o assunto. Mas algumas contam suas tragédias: uma delas diz que uma vizinha lhe chamou um dia e lhe perguntou se queria se casar. A resposta foi não. Então a vizinha disse que ela seria levada à força, e que apanharia. 
Geralmente é assim que funciona esse tipo de casamento de meninas nessa região da África do Sul. A menina lembra com detalhes: “Havia um homem velho num quarto e ele me disse – eu paguei gado por você. E você querendo ou não será minha mulher – Eu tentei lutar, mas ele me empurrou as pernas para abri-las… então me deitei com ele”, contou.
Estupros como esse acontecem sem que os homens dessa região da África do Sul entendam que estão fazendo algo errado (sabe aquela ideia super antiga de que a mulher é obrigada a fazer sexo com o marido? Então…). O trabalho de conscientização está sendo feito por lá. De dezembro até maio (de 2012), não há relatos de sequestros ou casamentos forçados de meninas. 

literalmente, ignorância

Timothy Nyawuse, chefe do conselho tradicional do vilarejo, diz que ninguém sabia que estava cometendo um crime ao promover na base da força o casamento de meninas. E pediu desculpas, em nome da comunidade, pelos casamentos forçados. Viu só? Não é tão simples julgar. É preciso conhecer a cultura local, entender suas peculiaridades, por mais bizarras que pareçam pra nós. Existe uma estrutura patriarcal gigante nos países africanos, com ramificações que lembram a Idade Média. Essas mesmas ramificações ressurgiram das cinzas, com outros nomes e outras desculpas, no restante do mundo, como EUA e Brasil.
A próxima batalha é recuperar a vida das jovens violadas (elas são rejeitadas por essa comunidade sul-africana, pois é!), e que agora estão infectadas com AIDS. Além disso, é necessário convencer todos os homens de que sexo com virgens não cura doença nenhuma. E que se a mulher, ou menina, não quiser casar, ou não quiser fazer sexo, respeite, porque não significa não. E nenhuma menina deve casar (especialmente com homens muito mais velhos) antes dos 18 anos. Por motivo nenhum (leia esse artigo para entender melhor os motivos).  
Pesquisas sugerem que meninos e meninas menores de 18 anos geralmente são jovens demais para transições sexuais, conjugais e reprodutivas. Casar-se antes dos 18 anos também pode ter grandes impactos negativos em uma série de outros resultados para as meninas e seus filhos. Por exemplo, o casamento precoce reduz a probabilidade de conclusão do ensino médio, que em muitos países é aos 18 anos de idade. Além disso, considera-se que, com menos de 18 anos, não adquiriram a capacidade — nem a maturidade — para consentir livre e plenamente ao casamento (dizem Paula Tavares, advogada do Banco Mundial, e Quentin Wodon, economista do Banco Mundial).
(esse texto foi adaptado de uma reportagem que fiz para o jornal Conectado da Megatv em 2012)
(minhas páginas, pessoais ou de cursos: instagramugrowth e linkedIn)

quer saber mais do que faço, além de poesia, crônicas, contos, jornalismo e artigos e …?

tenho cursos. autoconhecimento, comunicação, oratória, redação (curso exclusivo). mas vou falar dos três primeiros aqui (e muito mais do primeiro curso):

Meu cursos são basicamente análise e interpretação de discursos, tanto em oratória, quanto em comunicação quanto em autoconhecimento. Porque isso está ligado nos três cursos. Eu uso literatura, filosofia e cinema para analisar a cultura digital atual. Vou desconstruindo conceitos, os reformulo e mostro que nada é o que parecer ser e que nós menos ainda. enfim, essa é a base.

como assim?

Quanto ao que cada aluno vai aprender depende do conhecimento dele. Eu simplesmente parto de onde ele está. Por isso, no dia da aula experimental, farei duas coisas. Mostrarei onde pretendo chegar e como farei isso. A segunda coisa será fazer um diagnóstico do quanto o aluno sabe de cada curso. Além disso, farei perguntas simples, como, por exemplo, como ele define o que é beleza. Espero a explicação e aí eu já desenho o perfil cultural do aluno.

E as aulas, os textos e a complexidade das aulas vão de acordo com o nível dele. O tempo do curso depende da disponibilidade do aluno, mas eu vou pedir no mínimo 3 horas de estudo semanais (cada aula online por uma hora e meia). Então, eu não faço milagres, não vendo milagres, não acredito em milagres, por isso, na aula experimental digo que o curso pode levar meses (cada aula, um tópico mais ou menos). E os tópicos (do curso de autoconhecimento) são… peraí… clique aqui que eu mostro a grade de autoconhecimento. é isso. abraços.

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