Brasileiro tem medo de perder emprego para uma Inteligência Artificial 

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"Todos devemos ser capazes de cooperar na tentativa de deter os problemas da IA”, diz Geoffrey Hinton, conhecido como "padrinho da IA".
Brasileiro tem medo de perder emprego para uma Inteligência Artificial. Essa é uma das discussões da reportagem, além dos alertas de especialistas: Todos devemos ser capazes de cooperar na tentativa de deter os problemas da IA”, diz Geoffrey Hinton, que deixou seu emprego no Google recentemente. Foto/montagem: Eviatar Bach/Wikimedia Commons/Getty Images.

Pesquisa revela que 50,5% acreditam que podem perder o emprego. Especialistas (entre eles, o pioneiro da IA) alertam que mau uso da IA pode provocar caos social

por Fábio de Amorim

Nesta terça-feira, (13), Paul McCartney anunciou que usa uma Inteligência Artificial para extrair a voz de John Lennon e usá-la no que Paul chamou de “a música final” dos Beatles. O artista disse que a canção pode ser lançada ainda em 2023. Ele recebeu a gravação da viúva de Lennon, Yoko Ono. “A IA conseguiu extrair a voz de John de um pequeno trecho da fita cassete”, contou Paul McCartney. “Quando decidimos fazer o que seria o último disco dos Beatles, foi a partir de uma demo do John. Tínhamos a voz dele e do piano. Depois separamos tudo com IA. Eles disseram à máquina qual era a voz e qual era a guitarra. Então, a IA conseguiu pegar a voz do John e a deixou pura”. 

A Inteligência Artificial é uma realidade em constante evolução. Mais do que extrair vozes que parecem inaudíveis, há aplicativos que conseguem reproduzir a voz de uma pessoa quase à perfeição. Tal fato mostra um dos perigos desta tecnologia: a montagem de uma falsa realidade. Uma prova de fogo sobre esse assunto acontecerá com as eleições deste ano na Argentina e as eleições em 2024, nos EUA. Disputas eleitorais são um ambiente ideal para verificar a facilidade das IAs em criar fakes cada vez mais realistas.

Por isso há tantas pessoas influentes e especialistas alertando para os perigos do mau uso da IA. 

Os críticos vão desde Elon Musk (dono do Twitter), Yuval Noah Harari (um dos principais intelectuais deste século), Steve Wozniak (fundador da Apple) a Grady Booch (líder científico da IBM). Todos disseram que a sociedade deveria diminuir o ritmo das pesquisas com Inteligência Artificial a fim de termos tempo de entender seus perigos. Durante a apresentação de seu livro, 21 Lições para o século 21, Yuval Harari disse que “clareza é poder num mundo inundado por informações irrelevantes”. Yuval falou que a IA e a biotecnologia evoluíram tanto que o ser humano ainda não sabe o que fazer com o poder que conquistou.

O que pensa o brasileiro sobre IA

Enquanto há discussões sobre o que fazer, sabe-se quase nada do que pensa o cidadão comum. Há poucas pesquisas sobre o assunto no Brasil. A mais recente, do Instituto Affare, responde se o Brasileiro tem medo de perder emprego para uma Inteligência Artificial. Ela mostrou que 50,5% dos brasileiros têm esse receio. A pesquisa revela também que metade (49,4%) já teve contato com a tecnologia e 33,5% dos entrevistados dizem que não estão familiarizados com o significado de Inteligência Artificial. 

Para 48,3%, esta tecnologia é um sistema de computador que pode tomar decisões sem ajuda de humanos. Outros 30,4% definiram IA como uma tecnologia usada em redes sociais e pesquisas online. Por fim, 9,9% entendem que é uma forma avançada de tecnologia utilizada apenas em indústrias. Embora metade tenha medo de perder emprego para uma IA, somente 25,6% acham que ela pode trazer mais problemas do que benefícios. Além disso, 50,7% dizem confiar na tecnologia.

Na área de saúde, há maior confiança em relação ao uso da IA:

40,6% dos entrevistados afirmaram que talvez acreditassem num diagnóstico médico feito por IA; 21,4% afirmaram que confiariam totalmente. A pesquisa teve amostragem pequena (577 pessoas) e foi feita por telefone, mas ela é um início de investigação sobre o que pensa o brasileiro diante das IAs. O assunto está na pauta do Congresso e já teve proposta apresentada no dia 3 de maio deste ano.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), apresentou o PL 2.338/2023, que estabelece normas para o desenvolvimento, implementação e uso de sistemas de IA no Brasil. A ideia do projeto é garantir direitos para proteção do usuário e dispor de ferramentas de governança para fiscalização e supervisão para o desenvolvimento tecnológico. 

Principais pontos do projeto de lei sobre IA

  1. Pessoas expostas a sistemas de reconhecimento de emoções ou a sistemas de categorização biométrica serão informadas sobre a utilização e o funcionamento do sistema no ambiente em que ocorrer a exposição;

  2. Pessoas afetadas por sistemas de inteligência artificial terão direitos defendidos na lei e explicação sobre a decisão da IA, possibilidade de contestação das decisões ou previsões de sistemas de inteligência artificial, além de direito à privacidade e à proteção de dados pessoais, nos termos da legislação pertinente;

  3. IAs voltadas para crianças, adolescentes, idosos e pessoas com deficiência deverão ser direcionadas para a compreensão do seu funcionamento pelo seu público-alvo; os direitos desse grupo também deverão ser explicados no processo;

  4. Antes de entrar no mercado, todo sistema de inteligência artificial passará por avaliação preliminar realizada pelo fornecedor para classificação de seu grau de risco, cujo registro considerará os critérios previstos neste capítulo;

  5. Estão vetados sistemas de inteligência artificial que usam técnicas subliminares para induzir um indivíduo a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança; também está vetado AIs que explorem vulnerabilidades de grupos específicos;

  6. Na segurança pública, o uso de inteligência artificial será permitido somente para o uso de sistemas de identificação biométrica à distância;

  7. Os sistemas de inteligência artificial serão classificados, por uma autoridade competente, de acordo com o risco que podem causar à sociedade, levando em consideração o número de pessoas afetadas e a extensão geográfica, possibilidades de impactos negativos no exercício de direitos e liberdades, além de outros quesitos.

  8. Os agentes de inteligência artificial deverão comunicar à autoridade competente a ocorrência de graves incidentes de segurança, incluindo quando houver risco à vida e à integridade física de pessoas, ou a interrupção de operações críticas de infraestrutura, além de graves danos à propriedade ou ao meio ambiente, bem como violações aos direitos fundamentais.

O PL está em fase de análise pelas comissões temáticas do Senado Federal. Enquanto isso, o governo brasileiro vai submeter um projeto de resolução ao Conselho de Direitos Humanos da ONU. A ideia é monitorar o uso da IA e seu impacto em direitos fundamentais. Dinamarca, Áustria e Coreia do Sul tomaram a iniciativa desse projeto, com o Brasil fazendo parte. Uma primeira versão do texto deve ser submetida até o final de junho. Há uma votação programada para julho. 

O alerta do pioneiro da IA

Geoffrey Hinton, psicólogo cognitivo e cientista da computação, é conhecido como “padrinho da Inteligência Artificial”. Ele pediu demissão de seu cargo no Google no final de abril. Segundo Geoffrey, é necessário falar sobre os perigos da tecnologia que ele ajudou a desenvolver. Seu trabalho com redes neurais é inovador. Ficou uma década trabalhando no desenvolvimento de IA no Google, mas começou a se preocupar com o papel que esta tecnologia tem e terá desempenhado: “Eu me consolo com a desculpa normal: se eu não tivesse feito isso, outra pessoa teria feito”, disse Geoffrey Hinton em entrevista para o The New York Times.

Ao falar para a BBC, Geoffrey afirmou que chatbots (robôs virtuais) são bastante assustadores. O cientista falou que o GPT-4 supera de longe uma pessoa na quantidade de conhecimento geral que tem, mas o raciocínio ainda não é tão avançado. Segundo ele, “com o ritmo de evolução, a expectativa é de que fiquem melhores nisso rapidamente. Então, precisamos nos preocupar”.

O cientista alertou que pessoas mal-intencionadas tentariam usar a IA para fazer coisas ruins

Ele deu como exemplo o presidente da Rússia, Vladimir Putin, que poderia, segundo Geoffrey, decidir dar aos robôs a capacidade de criar seus próprios subobjetivos. Por exemplo, a ideia de obter mais poder: “A grande diferença é que com os sistemas digitais, você tem muitas cópias do mesmo conjunto de pesos, o mesmo modelo do mundo; e todas essas cópias podem aprender separadamente, mas compartilham seu conhecimento instantaneamente”, disse Geoffrey.

“É como se você tivesse 10 mil pessoas, e sempre que uma delas aprendesse algo, todas automaticamente aprenderiam. É assim que esses chatbots são capazes de saber muito mais do que qualquer pessoa”, completou o cientista.

O que é IA?

A Inteligência Artificial é um sistema de algoritmos capaz de realizar tarefas que normalmente exigiriam a inteligência humana. Esses sistemas aprendem a raciocinar, reconhecer padrões e tomar decisões com base em conjuntos complexos de dados. São usadas em carros autônomos, assistentes virtuais, análise de dados, diagnósticos médicos, detecção de fraudes, assistentes de voz e corretores automáticos.

Em maio, o Fórum Econômico Mundial divulgou seu relatório sobre o futuro do trabalho (The Future of Jobs Report 2023). O documento trata do impacto das IAs no mercado de trabalho. Num prazo de cinco anos, segundo o documento, 83 milhões de postos de trabalho serão eliminados (de um total de 673 milhões). Ao mesmo tempo, outros 69 milhões serão criados. 

O que disse o Centro de Segurança de Inteligência Artificial

O Centro de Segurança de Inteligência Artificial (ONG de pesquisa e desenvolvimento, com sede em San Francisco, EUA) mostrou diversos cenários possíveis de caos provocados pelo mau uso das IAs:

  1. As IAs podem ser armadas com ferramentas para descobrir drogas que podem ser usadas na construção de armas químicas; 
  2. A desinformação gerada pela IA pode desestabilizar a sociedade e “minar as tomadas de decisões coletivas”; 
  3. O poder da IA pode se tornar cada vez mais concentrado em poucas mãos, permitindo que regimes imponham valores restritos por meio de vigilância generalizada e censura opressiva, segundo o relatório do Centro de Segurança de Inteligência Artificial.

Tanto o pioneiro da IA no Google, Geoffrey Hinton, quanto Sam Altman (executivo-chefe da OpenAI, fabricante do ChatGPT) e Demis Hassabis (executivo-chefe do Google DeepMind), apoiaram a declaração da ONG sobre os perigos do mau uso das IAs. Eles afirmaram que é preciso haver uma regulamentação rápida dessa tecnologia para evitar os problemas citados. EUA e União Europeia já estão mais adiantados no debate. 

E a União Europeia, o que pensa?

A União Europeia, por exemplo, aprovou, nesta quarta-feira, (14), uma versão de projeto para regular o uso da Inteligência Artificial em todo o bloco. O texto trata, entre outras coisas, de reconhecimento facial e dos robôs, como o ChatGPT. O projeto quer proteger e dar mais segurança aos valores fundamentais das pessoas. O ChatGPT, por exemplo, atraiu atenção do mundo nos últimos meses por sua capacidade de responder sobre quase tudo. Ele tem mais de 100 milhões de usuários ativos por mês. 

O bloco europeu e os americanos criaram o Conselho de Comércio e Tecnologia (CCT) para alinhar o discurso em torno das IAs. O órgão foi criado em 2021 entre os 27 países-membros da UE e os EUA. A UE prometeu votar seu projeto final de regulamentação até o fim de 2023. No Brasil, a discussão ainda está em debate no Senado Federal.

(última atualização em 18 de junho de 2023)

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Resumo do que há no livro:

São personagens atormentados, no limite, que buscam, então, amor e precisam conhecer a si mesmos primeiro. Uma homenagem à vida na figura da minha avó materna (em Os Suicidas). Além disso, é uma ironia sobre nossa relação com a mídia televisiva (em Pano de Fundo).

Uma história de amor que não aconteceu (em Sonhos).

Mas não só isso: também é uma análise sobre os diferentes tipos de crueldade (em Cru). A história de uma criança de rua (ou de várias delas) que não se resolve nunca e parece um círculo vicioso (em Longa história…). São reflexões sobre isolamento social desde o nascimento (em A elipse).

Ainda tem uma história metalinguística, sobre aparências, memória imprecisa e pontos de vista (em As deslembranças), com final surpreendente.

Desse modo, sobra o último conto…

… A Rosa. Este faz parte de uma trilogia ainda inacabada (Pátria Amada). É um conto que usa fatos históricos e personagens reais do Brasil para contar algo inventado: por que o mecânico Otávio de Souza escreveu o poema/letra da música Rosa, de Pixinguinha?

Bom, por que, na verdade, ninguém sabe. Então, o conto inventa o motivo.

Portanto, esse é o argumento…

… para criar a história de amor entre Otávio e Rosa. Paralelamente a esse amor, há um pano de fundo: a história do Brasil, no Rio de Janeiro dos anos 10, 20 e 30 do século XX. Muitos fatos no conto realmente aconteceram.

Algo assim como Forrest Gump, interagindo com personagens históricos. Ou algo como no filme Shakespeare Apaixonado, em que os roteiristas inventaram o motivo do dramaturgo ter escrito Romeu e Julieta. Por isso o conto A Rosa usa, então, a música para contar a história do Brasil e do romance entre Otávio e Rosa.

O projeto ficou tão bom…

… que o autor F. de Amorim (eu mesmo) começou a segunda parte (que se passa nos anos de 1960 a 1970). E ainda fará a terceira. Todos os contos, pode-se dizer, representam uma valorização da poesia, do amor, e suas dimensões no mundo contemporâneo, mesmo que muitas das histórias tenham sido escritas na década de 1990.

Portanto, depois de ler “Brasileiro tem medo de perder emprego para uma Inteligência Artificial”, continue aqui no site e explore à vontade!!

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