s o n h o s

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preciso escrever pra você, tenho que dizer como estou, eu sei como você está, na certa se casou, você deve ser uma dentista (às vezes eu desconfiava do seu interesse pelo meu sorriso), mas preciso falar de mim, não tenho tempo de escrever… bobagem, isso é desculpa, na verdade não tenho hábito, quando estou sem trabalhos não quero mais nenhum, mesmo que seja prazeroso falar de você, e mesmo em carta seria delicioso; eu imagino você comentando cada palavra minha, você dizendo como sou, e, na verdade, como sou? você gostava de me dizer o que você achava que eu era; eu ficava te ouvindo, e às vezes dava sono (desculpe), então eu deitava (aí vem o melhor), e você punha minha cabeça em seu colo; você gostava de brincar de dar conselhos, eu gostava do que gostávamos; lembra como você ria? você ainda ri mordendo o lábio como que não querendo rir e depois explodindo numa gargalhada gostosa? você ainda ri com os olhos faiscando? acho que você virou psicóloga; não, você me dizia que seria dentista, pelo menos, você dizia, todo homem que entrasse em seu consultório ficaria, teria que ficar, de boca aberta com você, você dizia; preciso escrever, mas não sei quando terei coragem; você casou? deve ter casado, na certa se casou, eu sabia que você se mudaria da nossa cidade antes de mim; fui-me um ano depois; pro sul; 
você está na capital, você tem cara de capital, alta, forte, grande na diversidade, plural nas idéias, gêneros, você era excessiva, como as capitais são; o que tinha, tinha demais, o que não tinha era motivo de tempestades de indignação; você tinha uma nação no peito, minha mãe te chamava revolucionária, meu pai de atrevida mocinha, minha irmã de burguesóide sonhadora, eu te chamava de moça, de menina(e aí você sorria), às vezes te chamava de mulher, e não sei por qual, você se irritava, pois é, menina, eu ainda falo “não sei por qual”; acho que já falei muito de mim; você me chamava, sorrindo, de bobinho, mas a última vez você não sorriu; fiquei com a impressão de que tinha esquecido algo, ou que eu tinha que ter entendido alguma coisa e não entendi; é, preciso escrever pra você, tenho que dizer como estou, só assim tenho notícias suas, vou escrever amanhã , mas nem sei por onde começar… acho que, no final das contas, preciso começar dizendo… pensando melhor… preciso dizer que, na verdade, eu nunca me esqueci de você, e que você é a única mulher a quem amei, desde menino, ou quando eu achava que sabia o que era amor, até os dias de hoje, quando continuo sem saber nada sobre amor, mas amo… (agora me falta o advérbio) amo especialmente feliz por não saber por quê; preciso começar minha carta dizendo que te amo, e que não sei por que nem como; preciso começar a dizer o que venho me dizendo desde que te vi em nossos dez anos de idade, de pureza e certezas, mas amanhã escrevo, hoje estou sozinho, inseguro das coisas do mundo, não tenho certezas, preciso falar de mim, mas como esconder um amor infantil, que amadurece e atravessa o tempo, como esconder esse amor entre as palavras de uma carta? preciso escrever pra você, tenho que saber… quem sou eu e quem é você, mas hoje não, hoje é tempo de sonhar, de sorrir ao correr pela chuva de mãos dadas, e gritando pra todo o mundo ouvir que nós somos felizes por que estávamos ali… é tempo de acreditar no sonho 

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