quem somos nós: por que ser isento é antidemocrático

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Quem somos nós: por que ser isento é antidemocrático? Quem somos é um mistério. Somos os que reclamam, os que se calam ou os que são responsáveis pela reclamação? Os três tipos existem. Os isentos são os que mais me incomodam. Os suiceiros (de Suíça) dizem que não querem se meter em nenhum dos lados e ignoram até mesmo quando a luta é por um ideal comum a todos. Acredito que pessoas de diferentes pensamentos filosóficos, culturais, políticos podem ficar do mesmo lado quando isso envolve um tema de interesse humano comum. Ou somos os linchados, ou os linchadores ou os que defendem os linchados. Não dá pra ser o quarto tipo, aquele que não se mete porque tem mais o que fazer.

Quem somos nós: por que ser isento é antidemocrático é uma reflexão que tem tudo a ver com este quadro de 1891, de James Ensor (1860-49). O impressionista, que passou pelo expressionismo e surrealismo, trabalha a natureza grotesca nesse quadro. O grotesco reflete a própria visão do artista: um mundo regido pelo absurdo, no qual pensamentos desconexos e ações fúteis desempenham um papel grande demais. Pois é, qualquer semelhança...
Quem somos nós: por que ser isento é antidemocrático. O texto tem a ver com esse quadro de 1891, de James Ensor (1860-49). O impressionista, que passou pelo expressionismo e surrealismo, trabalha a natureza grotesca nesse quadro. O grotesco reflete a própria visão do artista: um mundo regido pelo absurdo, no qual pensamentos desconexos e ações fúteis desempenham um papel grande demais. Pois é, qualquer semelhança com o Brasil…

Quem somos nós nas polarizações?

Ser isento é antidemocrático porque não corrige erros. Os indiferentes sabem que os dois lados têm defeitos e não querem ser classificados como pertencentes a um lado torto ou ao outro lado curvado. Preferem manter sua retidão (de pessoa preocupada em ficar numa linha reta, não de gente com senso de justiça, que é o significado metafórico de retidão). Mas essa suposta vida reta não existe. A vida é cheia de curvas e buracos. Os ideais também acompanham problemas. As pessoas que seguem ideais bons também cometem erros durante o processo.

Exemplo: ser feminista, ser machista ou não ser nada?

Dentro da primeira onda feminista havia todo tipo de mulher, como já disse Ligya Fagundes Telles em seu livro A disciplina do Amor. Desde a mulher vingativa (que odiava todos os homens), daquela de bom senso, até a outra que via nisso tudo uma oportunidade para fazer carreira política. Mas o movimento feminista em si era importante e precisava continuar, mesmo com essas divergências ou diferenças de abordagens. Mesmo com os exageros. O feminismo é mais importante. Acontece que os isentos quando olhavam movimentos como esse só enxergam os defeitos – mesmo que pequenos ou irrelevantes no contexto.

E aí justificavam não tomar partido por isso. Mas o que os isentos não sabem ou não querem enxergar é que essa atitude era uma tomada de partido, sim. Ao não escolher, escolhiam sem querer. Escolhiam o lado opressor. As mulheres que escolhem não ser feministas porque “preferem trabalhar e não ficar de mimimi” (seja lá o que isso signifique), estão ajudando o lado que oprime as mulheres. As isentas não precisam sair pelas ruas gritando palavras de ordem. Por isso, entenda: ser isento, isenta, é antidemocrático porque evita discussões que levem a correções de rumo.

Ser feminista é ser antimachista. Como assim?

É discordar do sistema patriarcal. Ou seja, é se opor a uma injustiça cometida contra uma mulher (e não precisa ser você a mulher ofendida). É não se calar. Mas isso dá pra fazer, certo? Eu falei desse exemplo do feminismo. Mas o que estou falando sobre os indiferentes e isentos é para todos os assuntos. Por exemplo, quando você critica o governo atual, é chamado de esquerdista, mesmo que não seja. Porque quem te criticou não tem argumentos, apenas ódio ao que você falou.

Ser isento é antidemocrático porque você se coloca numa bolha do só-eu-estou-certo, e “o resto eu não quero saber”. Ou seja, você se põe fora das discussões democráticas que tentam melhorar o que você critica. Quem nós somos envolve tomar decisões. Dizer que nenhum lado presta não resolve nada. Tem isentos que acham que quando ficam longe dos dois lados se tornam livres para criticar. O problema é que ao fazer isso você só ajuda a si mesmo. Você pode se posicionar a favor de um lado sem pertencer a ele.

E você pode pertencer a um lado e ser muito crítico aos erros do lado a que você pertence. Porque você acredita no ideal do seu lado, mas critica as pessoas oportunistas que estão nesse lado, ou critica certas formas de conduzir o ideal, que mesmo sendo bom, pode ter aplicações ruins.

Nesse caso não se destrói o ideal, mas se corrige o modo de fazer, ou quem está fazendo.

Esse é o problema. Não identificamos o erro e o corrigimos, nós destruímos tudo o que envolve o erro (menos o erro em si). Assim, perdem-se coisas boas e criam-se monstros.

Nesse processo de criação de monstros, somos responsáveis por causa do nosso silêncio ou de nossa ignorância. Outro exemplo: pessoas são linchadas por serem negras, mulheres, inocentes ou culpadas. Não importa. Fazer justiça com as próprias mãos, ou achar legal quando os outros fazem, é a descrença completa na sociedade, nas instituições. As instituições falham? É claro. Mas precisamos confiar nelas, criticá-las, melhorá-las, e não mandar fechar tudo e botar um monte de militares que não sabem nada de povo, ou de como administrar um país multicultural.

Porque militares pensam em inimigos e em como derrotá-los. E são bons nisso. Mas quem somos nós, militares ou civis?

Sabe de quem tenho mais medo?

Das pessoas que não fazem ideia do que são, do que querem ser, mas desejam desesperadamente ser alguma coisa e por isso topam tudo o que aparecer de novo/diferente do que elas conhecem. Você não precisa saber que profissão irá seguir, mas intimamente você sente aquilo de que mais gosta de fazer. E isso já é algo que ajuda a explicar quem você será. Mas quando me deparo com gente vazia me preocupo. Então, o que é gente vazia? Aquela que segue qualquer moda, qualquer uma, boa ou má, simplesmente porque precisa seguir, não porque realmente tenha se identificado com aquilo.

É como os adolescentes que adoram uma banda e passam a se vestir como os integrantes (até aí, tudo bem, é inofensivo, os adolescentes estão descobrindo quem são). E criam até um “tipo” de jovem. Recebem um nome por aquele comportamento/jeito de se vestir. E muitos deles nem sabem que a maioria das bandas jovens é fabricada (não estou falando de talento musical), inclusive na vestimenta. Tudo faz parte da indústria cultural. Mas o meu assunto não são os adolescentes, mas sim os adultos, jovens ou velhos, vazios.

Adultos vazios

Eles são perigosos. Eles preenchem seu vazio com qualquer conteúdo fácil. Eu já vivi uma cultura do ódio, já vi de perto. Mas havia motivos mais claros, identificáveis, ‘resolvíveis’. Agora, a nova onda do ódio me assusta. Sempre houve linchamentos. Mas sua notícia não se espalhava tão rápido, com tantos detalhes, com vídeo completo circulando em todas as redes sociais, notebooks, smartphones, nos olhos e mentes de todos e de todas as idades.

Porque não havia a era digital. Mas agora há. Por isso há gente que vê aquilo como se assistisse a qualquer filme de terror do estilo Albergue (2005), filme péssimo, aliás. Por outro lado, me vem o excepcional filme M, o Vampiro de Dusseldorf (1931), em que há uma premissa parecida: um homem sequestra e mata crianças em Dusseldorf, na Alemanha. Ele não deixa pistas e um clima de tensão cresce entre as pessoas, que ficam paranoicas, suspeitando de qualquer um.

Mas e quando suspeitam, chegam até a agredir, quase linchar. Ora! Se há a suspeita, que levem o sujeito para a prisão para ser investigado, julgado etc. Mas o desespero e a ineficiência da polícia são tão grandes, que as pessoas perdem o juízo e querem fazer justiça com as próprias mãos. Ou seja, perdem a confiança no sistema. E, em vez de cobrar com inteligência, procuram resolver elas mesmas (sempre com violência).

Pera aí. Ainda não entendi quem somos nós e nem porque ser isento é antidemocrático…

Quando culpamos alguém sem provas, estamos culpando nossos inimigos imaginários.

Aquelas pessoas das quais não gostamos por qualquer motivo fútil ou preconceituoso. O homem que cheira mal. Ou a mulher que sai com vários homens, ou que é feia e frequenta candomblé (que é uma religião válida como qualquer outra, afinal, é até mais democrática do que a católica, por exemplo, porque aceita mulheres chefiando os rituais/cultos).

Ou ainda o menino negro, que fala palavrão e já praticou alguns furtos pequenos. Todos estes merecem, na visão dos linchadores, a morte. Os filhos de classe média alta, há anos, botaram fogo só por diversão, num índio (achavam que era um mendigo, como se isso fosse desculpa…), um índio que apenas dormia na rua; esses jovens acabaram matando-o. Esses garotos na época foram pra justiça, mas não foram condenados.

O caso ganhou repercussão porque era um índio, e sua tribo lutou por justiça, na justiça dos brancos. E se fosse um mendigo mesmo? Nem seriam levados a julgamento, afinal, era só um mendigo, certo? É como botar fogo num formigueiro. É só uma diversão inocente de crianças… Ah, nada aconteceu com os rapazes da classe média alta. Pareceu na época que vidas indígenas não importam. Mas é assim quem nós somos?

A cultura da crueldade vira espetáculo midiático. E você, prefere ser isento?

Quem somos nós: por que ser isento é antidemocrático é, também, um mal para a sociedade. Eu, por exemplo, não quero ver o vídeo da mulher sendo espancada, aquela mulher que teria sequestrado crianças para supostamente fazer magia negra. Porque eu assistiria a isso? Toda aquela violência escondida em épocas anteriores, toda a violência escolar entre estudantes, todo espancamento, gente sendo amarrada em postes, mulheres sendo linchadas, tudo isso, que acontecia antes, acontece agora também, só que tem mais público, plateia, audiência e, consequentemente, há produção, filmagem e direção.

E daí surgem os “seguidores”, como aqueles personagens malucos da série The Following (2013), que no Brasil passa na Warner. Os seguidores podem ser mais gente que se arvora o direito de fazer justiça com as próprias mãos, ou gente que se acha no direito de agredir outro só por diversão, ou porque o outro é mais fraco, mais pobre, mais escuro, mais feio, mais gordo, mais baixinho, mais gay, mais vadia, mais livre. O silêncio é antidemocrático.

Por que ser isento é antidemocrático? Explicação final

Ser isento é ficar em silêncio, mesmo que você esteja criticando todo mundo. Porque você não está lutando por algo. Os lados estão lutando por algo. Um acha justo oprimir, o outro não. Mas como você vê defeitos nos dois, prefere criticá-los. Mas não se posiciona sobre a opressão, a não ser que seja obrigado. E se posicionar não é dizer: eu sou contra. É reclamar espontaneamente quando uma injustiça acontece. Também é agir com palavras ou atitudes.

Ou ainda, sentar do mesmo lado de quem critica a opressão, mesmo que você tenha diferenças com ele. Sentar do mesmo lado porque estão lutando por algo em comum. Isso é quem devíamos ser. Mas os isentos preferem o silêncio antidemocrático, permitindo que os seguidores de malucos apareçam e se multipliquem, porque não há movimento grande o suficiente de pessoas para barrá-los.

Essas pessoas (os seguidores de malucos) são piores do que Hitler.

E olha que o austríaco baixinho virou sinônimo de diabo. Mas Hitler sabia exatamente o que queria e acreditava realmente naquelas loucuras estúpidas dele. Já os seguidores, os de alma vazia, esses… nem. Por isso são mais perigosos. Eles são a massa de manobra mais fácil de manipular (exatamente ao gosto de hitlers dessa vida). Fáceis de usar em qualquer tentativa de golpe, ou revoluções falsas ou genocidas com Deus acima de tudo. E nós somos responsáveis, ou pela disseminação deles, ou pelo fim deles. Essa é a escolha que o isento precisa fazer. O silêncio é antidemocrático porque não ataca os seguidores.

Acho que agora, finalmente, expliquei – se não quem somos nós – pelo menos por que ser isento é antidemocrático. Então, sobre esses doidos que seguem malucos, uma conclusão. Quem somos nós? Você já percebeu que não sei. E não sei também o que fazer com gente assim, ou como evitar sua proliferação. Mas sei que não devemos linchá-los ou amarrá-los em postes.

E sei que o silêncio nunca é solução.

 

(minhas páginas, pessoais ou de cursos: instagramugrowth e linkedIn)

quer saber mais do que faço, além de poesia, crônicas, contos, jornalismo e artigos e …?

Pois bem, tenho cursos: autoconhecimento, comunicação, oratória, redação (curso exclusivo). Mas vou falar dos três primeiros aqui (e muito mais do primeiro curso):

Meu cursos são basicamente análise e interpretação de discursos, tanto em oratória, quanto em comunicação quanto em autoconhecimento. Porque isso está ligado nos três cursos. Ou melhor, eu uso literatura, filosofia e cinema para analisar a cultura digital atual. Vou desconstruindo conceitos, os reformulo e mostro que nada é o que parecer ser e que nós menos ainda. enfim, essa é a base.

como assim?

Quanto ao que cada aluno vai aprender depende do conhecimento dele. Então, eu simplesmente parto de onde ele está. Por isso, no dia da aula experimental, farei duas coisas. Mostrarei onde pretendo chegar e como farei isso. A segunda coisa será fazer um diagnóstico do quanto o aluno sabe de cada curso. Além disso, farei perguntas simples, como, por exemplo, como ele define o que é beleza. Espero a explicação e aí eu já desenho o perfil cultural do aluno.

E as aulas, os textos e a complexidade das aulas vão de acordo com o nível dele. O tempo do curso depende da disponibilidade do aluno, mas eu vou pedir no mínimo 3 horas de estudo semanais (cada aula online por uma hora e meia). Então, eu não faço milagres, não vendo milagres, não acredito em milagres, por isso, na aula experimental digo que o curso pode levar meses (cada aula, um tópico mais ou menos). E os tópicos (do curso de autoconhecimento) são… peraí… clique aqui que eu mostro a grade de autoconhecimento. é isso. abraços.

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