azul num dia de verão

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o gato é um bicho incrível. não conheço todos os gatos do mundo. mas conheço o meu. o nome dele é azul. quando resolvo escrever, ele se aproxima e encosta no meu braço direito. como ele é uma pantufa ambulante, esquenta pra dedéu. e como faz um calor violento, o meu braço se transforma em cozido em questão de segundos. mas ok. a cena dele no meu braço, como se fosse um bebê, olhando a tela do computador e pra mim, com cara de – que troço é esse? – ou cara de – que tédio!! – tudo isso é muito, digamos, fofo. 
mas a porra do meu braço está queimando, então, tenho de afastar o bichano. ele sai, à contragosto. eu continuo a escrever. o orelhudo passeia pela cama, vem em minha direção, olha pra mim com cara de – vou aprontar – e como se eu fosse um pedaço de carne qualquer, simplesmente pisoteia minha barriga. ele adora passar por cima de mim, justamente na barriga – porque eu protejo a região delicada dos homens, senão ele pisaria lá. e o pior: muitas vezes ele passa por cima e para no meio do caminho, pra se espreguiçar. enquanto isso fica na frente da tela do laptop, com a pata e o peso na minha barriga… 
então ele sai. mas insatisfeito, volta e faz o mesmo procedimento. que é repetido umas quatro vezes. isso é um indicativo de que ele quer se encostar no meu braço. ligo o ventilador. ele dá um passeio pelo apartamento. ouço música e retomo aos meus textos. o azul volta, se entrega à cama como a bola se entrega ao gol: se joga na cama, se abre todo… faz charme. já entendi, ele quer brincar. e a brincadeira dele é perseguição. coisa de macho. porrada. ele contra minha mão. qualquer mão, a esquerda ou direita. mas primeiro ele quer que eu o persiga na sala. aí ele se esconde – como se eu não pudesse vê-lo – e quando eu ando, fingindo distraído, ele ataca minhas pernas, como se eu fosse uma gazela inocente e ele fosse um guepardo. depois desse momento national geografic, volto pra cama. ele ainda está ligado em 220. 
ainda não consegui escrever nada. olho pra ele com raiva. ele responde com desdém. recomeço a escrever. cinco minutos depois ele volta. quieto. maroto. fica do meu lado, sem se encostar. olha com preguiça. escrevo um parágrafo assim, sem ser incomodado. mas de repente, ele escuta o barulhinho de uma mensagem recebida no meu celular. enlouquece. como se estivesse em transe cósmico assassino, mia, naquele miado de filmes de terror, se agarra ao meu braço como se fosse durepox, e quer porque quer me morder o punho, a mão… simplesmente gruda no meu braço, miando e agarrado com firmeza. com minha outra mão, agarro sua cabeça e seguro por uns segundos, até passar o efeito da droga que ele tomou. o gato, como por encanto, volta ao normal. 
esses acessos de psicose ele tem sempre que ouve algum barulhinho tipo: assobio, solo do jimmy page, torpedos, eu cantarolando algo, sade cantando smooth operator, ou tédio completo… essa é a coisa mais esquisita que já vi na vida. talvez ele tenha um chip no cérebro colocado por extraterrestres da galáxia de andrômeda, que planejam exterminar a raça humana, e fazem testes com gatos para ver a eficácia do projeto antes de aplicá-lo. é provável que o chip do meu gato esteja com defeito, então ele dispara com qualquer coisa. ou talvez ele seja um gato maluco. não sei… eu gosto mais da teoria dos ets de andrômeda…

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