Os motivos da guerra na Síria
A guerra na Síria parece se transformar, no fim das contas, em um conflito sectário. A minoria alauíta tem o poder. Mas o está perdendo para os sunitas. O massacre de Treimsa – o sexto em mais de um ano de conflito – faz parte de um objetivo só: limpar a região para que os alauítas possam criar um estado independente.
Não houve massacre. Tudo foi resultado de uma operação militar. Houve confrontos entre forças de segurança e rebeldes. O dever do exército é defender os civis. Essa é a explicação do governo sírio. A afirmação foi dada pelo porta-voz do ministério do exterior, Jihad Makdissi. Não houve massacre.
Essa frase vai ecoar pela região de Treimsa durante anos. E dificilmente alguém irá convencer as mães e esposas que lamentam seus filhos e maridos mortos.
As mortes foram tão sangrentas, que há dificuldade em se definir o número de vítimas. O Observatório Sírio de Direitos Humanos acredita em 150 corpos. Testemunhas elevam esse número para 227. Enquanto o número de feridos rondaria os 300.
É a maior atrocidade já cometida desde que começou a guerra na Síria. Treimsa foi bombardeada durante horas, com helicópteros e artilharia pesada. Depois, soldados e paramilitares entraram na cidade para terminar o serviço.
Essas informações são negadas pelo governo sírio. Não houve nada disso, segundo o Ministério do Exterior. Muito menos helicópteros ou outras armas pesadas.
As Nações Unidas acreditam que o objetivo do regime era matar desertores e ativistas. E as imagens feitas pelos observadores confirmam o uso de armas pesadas.
As imagens mostram prédios destruídos, manchas de sangue em colchões, bombas que não explodiram e mulheres chorando. O ataque a Treimsa aumentou a pressão internacional contra o presidente Bashar Assad.
Este é o sexto massacre de civis na Síria. E porque Assad estaria fazendo isso? Uma das hipóteses é de que o presidente sírio sabe que está perdendo a guerra. Províncias como Deir Zor escapam do controle do exército.
Além disso, os combates já chegaram a Damasco. Um estrondo de bombas se escutou desde o palácio presidencial. O que farão os Assad e seus seguidores da minoria alauíta quando os rebeldes começarem a conquistar a capital??
Os alauítas representam 10% dos 22 milhões de sírios. 75% são muçulmanos sunitas.
Enquanto os tiroteios, bombardeios continuam, membros da oposição síria e acadêmicos especialistas na região, têm uma suspeita.
Para eles, os fiéis de Assad não vão lutar até a última gota de sangue. Eles estariam planejando se manter a salvo na região noroeste do país. Nas montanhas e cidades costeiras de Latakia e Tartus, de onde são originários os alauítas.
Quando chegar o momento eles fugirão. As manifestações crescem. Os rebeldes se aproximam. A pressão internacional é maior. Quando não for possível evitar a queda de Damasco, os subordinados de Assad voltarão para as zonas alauítas.
Os rebeldes dizem que há tanto sangue nas mãos do regime, que será impossível que os fiéis de Assad vivam seguros. Por mais que tenham garantias, depois de entregar o poder.
A criação de um estado alauíta se converteu numa quase certeza. Isso é o que repete Abdel Halim Khaddam. Ele foi vice-presidente sírio até pouco antes de seu exílio na França em 2005.
Diz ele que os mísseis e armas estratégicas foram transferidos para o noroeste do país. Uma outra parte continua com a repressão. Mas a operação fuga está em marcha.
Por isso, nessa área em que pretendem habitar, se está produzindo uma limpeza étnica. Matando e aterrorizando os sunitas, para reduzir seu peso na região. Exemplo claro é o massacre em Treimsa. O regime de Assad, por mais que negue, está limpando a área para sua chegada.
Custe a lágrima que custar.
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