o prédio e o crime do loiro (trecho)

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O porteiro ouvia agitado o segundo tempo do jogo na televisãozinha e não tirava os olhos da tela. Não percebeu o vento gelado nas costas como não percebeu o morador loiro do 61 entrar pelo portão automático que curiosamente estava encostado porque aquela mocinha do 31 que fuma feito chaminé foi comprar rapidinho na padaria do lado um maço de alívio mas não tinha voltado ainda porque batia papo no telefone com o namorado ou coisa assim que está em São José dos Campos trabalhando ou visitando a família, tanto faz.

(ufa! sem vírgulas é foda!…)

Tinha uma cara permanente de macho de novela do horário nobre quando vai dar em cima da gostosona principal que na história é mal amada e ele diz pra ela “Você precisa de um homem que te dê carinho e compreensão, alguém que te deseje 24 horas do fundo do coração”. O corpo de 28 anos, atlético, de quem está sempre em forma sem ficar enfurnado numa academia. Subia as escadas rapidamente como exigem os músculos alongados e o ímpeto da juventude, ainda que quase madura, chegando aos 30 logo, logo. 

Quando ia colocar a chave para abrir a porta, o jovem Miguel, loiro, branquíssimo como o luar, sentiu uma fisgada num músculo entre o ombro direito e o pescoço. Veio uma dor aguda concentrada na região do ombro. Ameaçou gritar abrindo a boca feito um túnel Ayrton Senna. Mas a lâmina que lhe atravessou a garganta da esquerda pra direita e não permitiu o grito. Caiu. Morreu. Mais pálido, jorrando vermelho. Festival de cores: amarelo-cabelo, vermelho-sangue, branco-morte…
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