capítulo 11 do conto CRU, que fiz há tempos (cenário inspirado numa pensão de bauru)

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11 – fiquei te esperando 

Levantou o azulejo róseo. Sentiu, sentiu a profundidade do buraco com o tateio da mão direita. Vazio. Ainda não acreditou que alguém tivesse levado. Não é possível. O assaltante pensa e conclui. Só se for alguém da pensão. Nem que um por um tenha de morrer, o assaltante vai descobrir quem foi. Era só o
que faltava. O assaltante virar detetive pra descobrir quem o roubou. E como descobriram o esconderijo? A empregada, mais nova, da pensão, passa pelo assaltante. Ela carrega as malas e um monte de sacolas
-Vai viajar, filha? – pergunta o assaltante
– Ah, que susto! Eu vou é embora daqui, seu. Sabe, depois da morte do vô, eu fiquei com medo.
– Mas a polícia acha que um maluco veio aqui e o vô pegou ele, e no susto o cara fez o que fez.
– Ah, conversa. Eu vou embora.
– Mas, Dalinha, pra onde você vai? – falou, charmoso


Dalinha, que adorava ser seduzida pelos homens da pensão (ela se esforçava muito pra isso), respondeu mais molemente, mais aberta:
– Pra casa da minha amiga. A gente vai dividir. Olha, liga pra mim, pra gente sair. Eu tô anotando. Pronto. O endereço tá aí. Tó.
– Pode deixar que eu apareço.
– Ah, todos dizem isso pra mim. Mas ninguém vem.
– Não duvide de mim, Dalinha.
E o assaltante viu Dalinha ir-se. Sorriu pra si mesmo.

dois dias depois, a notícia

Dália Deneide Dorval, 26 anos, é encontrada brutalmente assassinada. O crânio rachado. A garganta cortada. Mas o cúmulo da crueldade ficou para o final. O criminoso fez questão de esperar a vítima morrer, pra depois violentá-la. O crime hediondo, uma semana depois de um crime parecido no
centro da cidade, comove a população de Palas. Os moradores e a polícia se unem à caça do maníaco. Não há dúvidas por parte da polícia de que foi a mesma pessoa quem matou o senhor de 68 anos, Inésio Fontes Almeida, e a moça Dália Deneide, de 26. Ela, inclusive, tinha se mudado da pensão há dois
dias, com medo de morrer… 

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